Fargo

Nos primeiros minutos já somos surpreendidos com um letreiro advertindo sobre a veracidade dos fatos que serão ali dramatizados. Mas não se enganem, pois a história não é real, pelo menos da maneira como entendemos com aquele aviso. Contando a história de Jerry, um vendedor de carros de uma cidadezinha de Minnesota que se encontra endividado. Para resolver seus problemas, resolve contratar dois bandidos para seqüestrar sua esposa e embolsar o resgate que seu rico sogro irá pagar. Mas o problema é que algumas mortes inesperadas vão acontecer.

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O realismo presente no filme não se transmite através do já citado letreiro inicial. Nunca contestamos a veracidade dos fatos ali relatados se aceitamos a sua premissa. Isso por que os irmãos Coen acertam na maneira de contar a sua história: De maneira cadenciada, poucos cortes, alguns planos abertos para dar-nos noção de onde estamos no filme. Vale reparar na cena em que a policial Marge foi chamada no meio da noite e está tomando café com seu marido, vai até lá fora, vê que tem um problema no carro e entra novamente para pedir ajuda ao marido, onde vemos tudo que está acontecendo sem que haja nenhum corte ou mesmo nenhum movimento de câmera. A maneira como o elenco vive seus personagens é igualmente interessante, confiando nos sotaques carregados e nos trejeitos interioranos. A psicologia dos personagens é muito bem desenvolvida, contando com um Jerry que encarna a faceta de perdedor, vivendo como que à custa do sogro, por quem é cobrado e menosprezado. Será mesmo que Jerry gosta da esposa, ou é o dinheiro dela que o chamou atenção. Não se enganem com o desempenho de William Macy para conceder pena ao seu personagem, pois prefiro manter a dúvida sobre ele. Marge conserva seus hábitos caseiros e simples, ao mesmo tempo em que está grávida e conduzindo a investigação. A relação desta com o marido denota um companheirismo e amor admiráveis que a leva a reconhecer, ao fim do filme, que não entende o porquê dos crimes, que se justificam unicamente por dinheiro. O sogro de Jerry é o homem de negócios que quer sempre levar a melhor e tomar conta da situação. A dupla de banidos vive momentos de humor negro hilariantes.

Assim, pensando em como se justificaria os atos de Jerry, que são injustificáveis, e admirando a simplicidade de pessoas ali retratadas, descubro, para minha surpresa, que não se trata de uma história verídica. Mas na verdade é verídica sim. Pode não ter ocorrido no mesmo lugar, na mesma hora, mas em algum lugar aquilo tudo aconteceu. É uma antologia de fatos reais. Alguns assustadoramente reais outros agradavelmente reais.

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