Possuída – Breve Comentário

Não é fácil ser adolescente. Principalmente ser mulher adolescente e sofrer toda uma gama de transformações corporais e hormonais nessa fase. “Possuída” é um longa que se apropria do terror de maneira a construir essa alegoria das transformações do corpo que uma jovem adolescente está sujeita. Continuar lendo

Predadores Assassinos – Breve Comentário


Haley Keller (Kaya Scodelario) e seu pai ferido Dave (Barry Pepper) ficam presos pelas águas da enchente em sua casa durante um furacão, a medida que são cercados por jacarés.

Haley é uma personagem bem resolvida e segura de si que, quando descobre o perigo do furacão e o desaparecimento do pai, resolve retornar ao lugar onde nascera para procurá-lo. Ciente dos riscos que está correndo, a garota vê no resgate do pai a resolução de provavelmente um dos poucos problemas que tem na vida, na relação com o pai que reconhecera o talento da filha na natação e fora rígido em treinar a garota naquilo que, talvez, ela nem quisesse tanto. Essa exploração da atitude dos pais em projetar seus sonhos nos filhos torna a trama dos jacarés um pano de fundo de suspense que só enriquece ainda mais o longa aparentemente simples.




Tendo que fugir de jacarés gigantes numa luta por sobrevivência dirigida com perfeição pelo francês Alexandre Aja, com enquadramentos precisos que valorizam os espaços restritos e se utilizando dos jump scares com perfeição invejável, é notável perceber como o longa explora o subsolo da casa, como numa citação ao inconsciente da personagem, e a medida que o traumas de infância são resolvidos o local da ação muda, situando pai e filha no olho do furacão e concluindo no teto da casa. Não deixa de ser uma referência ao clássico Os Pássaros, de Hitchcock, que se valia da revolta da natureza simbolizada pelos pássaros para explorar a psique das personagens, ou mesmo ao Tubarão de Spielberg, que Aja cita em alguns planos subjetivos dentro d’água. Predadores Assassinos é um filme que engaja o espectador dentro da trama e da mente de personagens interessantes e entrega um desfecho à altura do espetáculo.




Direção: Alexandre Aja

Roteiro: Michael Rasmussen, Shawn Rasmussen

Elenco: Kaya ScodelarioBarry Pepper, Morfydd Clark, Ross Anderson, Jose Palma

Diretor de fotografia: Maxime Alexandre

Música: Shawn Rasmussen

Montagem: Elliot Greenberg

A Maldição da Mansão Bly – Breve comentário

 

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Após a trágica morte de uma au pair, Henry contrata uma jovem americana para cuidar de sua sobrinha e sobrinho órfãos que moram na Mansão Bly.

O que lhe dá medo? Um pesadelo povoado de monstros? Uma sombra que passa pelo canto do olho? Um grito distante? Ou a perda de uma pessoa amada? De um filho, ou filha, talvez. De esquecer quem são as pessoas que estão ao seu lado? De sonhar e nunca mais acordar?

O criador Mike Flanagan (de “Doutor Sono” eHush: A Morte Ouve”), nesta adaptação cheia de personalidade da clássica obra literária “A Volta do Parafuso“, constrói uma narrativa calcada, num primeiro momento, nas múltiplas histórias de luto de seus personagens, que compartilham suas histórias ao redor de uma fogueira. Mas vai além. Somos o resultado das nossas lembranças do passado e expectativas do futuro, e a viagem mais rica que podemos fazer é dentro das nossas memórias. Perdê-las é perder a nossa identidade. E eternamente retornar a elas cria um laço de ressignificação constante.

Com um elenco muito expressivo em seu favor, Mansão Bly tem credibilidade nas emoções que quer passar em suas múltiplas histórias, e o entrosamento entre Dani, Flora e Miles, magistralmente interpretados pelo trio Victoria Pedretti, Amelia Bea Smith e Benjamin Evan Ainsworth, com seus passados de famílias “quebradas” e perdas é o que dá força à serie.

Mansão Bly consegue transitar habilmente entre o drama e o sobrenatural que é difícil enxergar onde um começa e o outro termina. Próximo do desfecho, já tendo contado as histórias íntimas de todos os seus personagens principais, a mensagem de perda de memória evolui numa nova personagem, evocando uma metáfora sobre apagamento histórico, algo que nos dias de hoje, com a ascensão de uma direita que constrói uma visão distorcida de mundo, encontra um eco poderoso. Mas é no seu desfecho que temos as melhores ideias sendo trabalhadas. A solução dada à ameaça que surge remete ao próprio sentimento de empatia, tão necessária nos nossos dias. Daí surge o verdadeiro horror velado da perda de identidade, uma metáfora à depressão e esgotamento emocional vivido pela personagem. E é na sensação de perder as pessoas que se ama que reside a beleza, o drama e o horror, enquanto desconstrução de identidade, de “Mansao Bly“.

Elenco: Victoria Pedretti, Henry Thomas, Oliver Jackson-Cohen, Kate Siegel, T’Nia Miller, Rahul Kohli, Benjamin EvanAinsworth, Amelia Bea Smith, Amelia Eve,Tahirah Sharif

Direção: Ciarán Foy, Liam Gavin, Axelle Carolyn, Mike Flanagan, Ben Howling, E.L. Katz, Yolanda Ramke

Roteiro: Mike Flanagan, Henry James, Rebecca Klingel

Música: The Newton Brothers

Fotografia: Maxime Alexandre, James Kniest